Deja vu
Perto de tudo e de todos,
e distante de mim...
Preocupado, rebuscando minúcias de meu passado,
no entanto, para isto, tive que fazer um grande esforço,
para não cair no calabouço de minhas mais soturnas lembranças...
Preciso libertar-me das correntes, desvendar as tendas
que cobriam meu olhar de confrade.
Existem ainda muitas coisas, exigindo serem redescobertas.
A poeira que se levanta, pelo esbaforido sopro do tempo, e
me impele a rever meus pergaminhos,
atravessar sem atalhos a minha história e
realinhar meu mapa no caminho...
Meu rosto aceita com um certo queixume,
as marcas esculpidas pelo tempo.
Insatisfeito pelos atropelos, ainda olho por baixo dos
ombros, tentando encontrar pequenos suvenires,
perdidos nos cantinhos, daqueles preciosos momentos,
que julgava imperioso manter pelo menos um pequeno detalhe.
Porem, nunca esqueço das duras ferramentas,
muitas vezes, utilizadas, sem que meu coração
de fato consentisse.
Meu corpo devagar se forja ao menor esforço,
sem o remorso de insistentes atrevimentos de menino;
este, que de teimoso, nunca se vai de mim, mesmo assim,
o homem que devagar se defronta ao inevitável novelo do
mosaico tempo, irreverente às vezes, fingindo não beber
no conta-gotas, as fagulhas respingadas do inexorável e
fecundo tabuleiro do criador.
Ainda insisto em compreender o que não se pode compreender e
aceitar o que não se deve aceitar,
Elevando-me a novos “costumes tecnológicos” às vezes, meio ilógico,
mas inevitável navegar....
Bebo em taças, açoitadas pelo desumano reverbério absinto.
Mas o novo, sempre insiste em chegar, mesmo que eu não pareça
aceitar, ele resiste ao lapso de tempo, e como o vento,
penetra na diminuta fresta da janela; trazendo-me eternas lembranças
de meu tempo de criança. Ainda passam por mim, pores-de-sois
apocalípticos e gramíneas cobertas de orvalho...Coisas que perdi no tempo,
olhares amigos, muitas vezes protetores e conselheiros, outras,
críticos, debochados e assustadores...Com estes aprendi como lição
para vida, provar a mim mesmo, que seria um vencedor...
...Um uivo, congela-me no tempo, abrindo aspas, simulando um
misterioso deja vu que eterniza aromas, sons e
detalhes; condenando-me a falsas esperanças, traduzidas em sonhos;
hoje, traduzidos em saudosas realidades...
Hoje, vivo docemente, iludindo-me em vítrias telas, que quase me confortam,
nesses momentos de despertares que levam qualquer homem até ao vale de lágrimas
e o transportam de volta, como se nada houvera de acontecer...
...Bons tempos aqueles, que a gente era criança que acreditava
que bastava, apenas ficar de joelhos, e o milagre acontecia!
Ainda agora, revejo-me menino, correndo de braços abertos, no alto montanha
"Ícaro do sonho incertos... "
Eu que ainda pequeno, avistava aqueles antigos e prateados aviões para-quedistas,
que cruzavam os céus de Barbacena; sequer imaginava que todo
esse mistério do viver, era bem mais que filosofia...
José Tadeu Alves
Enviado por José Tadeu Alves em 20/01/2009
Alterado em 13/01/2011